A Rainha do Abismo - Capítulo 04 - O Padre
A Rainha do Abismo - Série Detetive Amanda Cruz.
Links da versão completa com 317 páginas no meu perfil.
Capítulo 04 - O Padre
Na sacristia anexa à Igreja havia um banco de supino perto da parede, ao lado do armário das batinas. Padre Diego já estava em sua oitava repetição da quarta série, levantando 60kg de cada lado, quando Jorge atravessou a porta aberta sem bater.
- Desculpa atrapalhar sua sessão de ginástica mas tenho um favorzinho pra te pedir.
- Bom dia pra você também... Quem é essa moça?
Amanda, da porta, olhou o Padre sentado no banco de supino com uma “segunda pele” da Adidas e a calça de moletom toda suada. O lugar parecia uma sauna. Era úmido, quente e cheirava a suor e desodorante vencido.
- Ela tem um daqueles velhos probleminhas de sempre. Tem cerveja aqui?
- No frigobar, debaixo da cruz.
- Onde?
- Da outra cruz, a de madeira.
- Ah, sim. - Jorge abriu uma latinha e começou a sorver o líquido.
- Tá um pouco cedo, não acha?
- Na China é bem tarde agora.
- Pode entrar, moça, todos são bem-vindos à casa de Deus.
- O senhor é o Padre Diego? - perguntou ela.
- Sim.
- Ok.
“Fui salva de um demônio por um Rambo da terceira idade e agora vou ser exorcizada por um padre bombado”, pensou ela.
- Ela interagiu com um deles? - O Padre perguntou a Jorge enquanto enxugava o suor da testa com uma toalha branca.
- Sim. Peguei ela no momento que seria sacrificada para uma Larva.
- Tem certeza que era um bebê? Ela pode estar grávida…
- Grávida?! - perguntou Amanda, confusa.
- Não. Não emprenhou não, era uma larva ainda impúbere, tenho certeza.
- Emprenhou? Tenho cara de cadela, por acaso?! - respondeu, indignada, com as mãos na cintura.
- Se tem certeza, menos mal. Por que não me chamou pra ação? - perguntou o Padre, ignorando a histeria da moça.
- A Cartomante me avisou momentos antes, não tive tempo, tive de ir sozinho.
- Hmm… Mas e aí, conseguiu matá-lo? Estava com a relíquia?
- Estava com o punhal, mas não…
- Espera aí, porra! - gritou Amanda. – Que merda é essa que estão falando?! Gravidez, cartomante, relíquia, que merda é essa?! Me expliquem, por favor!
- É como eu disse, Amanda, é uma longa história.
- Você chegou a ter sonhos, né? Com quem você sonhou?
- Estou em um interrogatório agora – disse ela, irônica. – Primeiro vocês…
- Azazel. – Interrompeu Jorge. - Eram seus seguidores na cripta.
- Era um homem gordo no sonho?
- Sim. – Amanda suspirou profundamente. – Em um trono de pedra.
- Ele mesmo, então – respondeu o Padre.
- Eu disse, ora bolas, eram acólitos dele. Vou pegar mais uma, Padre.
- Fique à vontade. Amanda, você deve estar muito confusa. É uma situação complexa e…
- Sou toda ouvidos, Padre, por favor!
O Padre se levantou, tinha mais de 100kg. Quase não tinha pescoço, os músculos do trapézio chegavam quase até a base do queixo. Fisicamente o Padre rivalizava com um lutador de MMA peso-pesado. Seu peito largo dava a ele uma aparência bastante imponente. Apontou o banco de supino para Amanda e a convidou a sentar-se, ela o fez meio emburrada.
- Existe um conflito ocorrendo no lugar que você entenderia como “inferno”. É uma guerra civil. Duas facções diferentes lutam entre si, dois feudos. Um deles tem como suserano a entidade que você viu em seu sonho, o nome dele é Azazel. Ele é um grande senhor, uma entidade poderosa.
- E quem são vocês? Digo, você e o Jorge. Pelo que entendi vocês lutam contra eles.
- Somos guerreiros sagrados, da Ordem dos Cavaleiros Templários. - Jorge respondeu a pergunta direcionada ao Padre com uma seriedade estoica.
- HAHAHA! – Amanda começou a rir. – Vocês dois? Templários? HAHAHA! - Os olhos dela lacrimejavam de tanto rir.
- Ele disse uma verdade – disse o Padre. – Chamamos hoje apenas de “A Ordem”. Templários é apenas um dos nomes históricos.
- De todos considero o mais legal - respondeu Jorge.
- Vocês então são caçadores de demônios? Que piração.
- Não é exatamente isso, seria simplificar muito a… - O Padre gaguejou um pouco.
- Sim, somos. – Jorge disse depois de engolir outro grande gole de cerveja.
- A mulher de vermelho estava com um livro, foi ela que invocou o monstro, a larva que vocês mencionaram. Que livro era aquele?
- Provavelmente uma cópia do Evangelho de Azazel.
- Sim, era o Evangelho de Azazel, uma cópia escrita na Língua Antiga.
- O que é língua antiga?
- Antes da Torre de Babel todas as pessoas falavam o mesmo idioma, então, Língua Antiga era esse idioma.
- Nossa, é muita informação. Parece conversa de maluco.
- Foi você que pediu para saber, ora bolas. - Jorge terminava de matar a segunda latinha.
- De qualquer forma, vamos começar o ritual, já perdemos muito tempo. – No caminho do banheiro o Padre lançou um cruzado no saco de pancadas que ficou balançando.
- O que ele vai fazer?
- O que todo mundo faz depois da academia. Tomar um banho, oras.
Deitada de barriga para cima em uma cama com lençóis brancos Amanda observava, já bastante sonolenta. Padre Diego fazia uma oração. Ela já havia feito uma longa reza em latim enquanto borrifava água benta no rosto da moça. “O inimigo maldito atravessou, como um rio imundo, o veneno da sua iniquidade em homens depravados de mente e corruptos de coração e incutiu-lhes o espírito de mentira, impiedade, blasfêmia e seu hálito mortífero de luxúria, de todos os vícios e iniquidades. Qui resurrexiti a mortuis. Qui in coleum ascendit. Qui Spiritum sanctum…” ela escutava o Padre orando, via a sua língua mexendo dentro da boca, seus ombros largos desenhavam a batina apertada, “que cara gostoso” pensou ela, já estava com a buceta toda molhada, o clítoris excitado roçando o tecido da calcinha vermelha embaixo da calça, ela já não aguentava mais, estava morrendo de sono quando enfiou o dedo em sua vagina e começou a se masturbar ali mesmo, as unhas pintadas com esmalte preto guiando os dedos que iam e voltavam em sua vulva melada e quentinha. Acabou sendo a última coisa que se lembraria depois, antes de cair em um sono profundo.
Acordou com os pulsos machucados, quase cortados, com grossas marcas vermelhas. Padre Diego estava encostado no muro do lado de fora, conversava com Jorge que fumava um cigarro. A luz do sol invadia a sala da sacristia, pássaros cantavam no gramado arborizado da Igreja. Ela se levantou da cama que rangeu, chamando a atenção dos dois homens que estavam lá fora. Fitaram ela com os olhos esbugalhados e entraram rapidamente na sacristia.
- Como você se sente? - perguntou o Padre.
- Bem. O que houve com meus pulsos?
- Tivemos que amarrá-la na cama.
- Entendi. Padre...
- Diga.
- Me desculpe pelo…
- Não tem problema - interrompeu ele. – A influência do mal leva a esse tipo de comportamento.
Ela corou. Amanda estava constrangida, até onde se lembrava sua reação foi bastante inadequada. “Põe inadequada nisso!”, pensou. Mesmo levando em conta o fato de estar em uma igreja com um frigobar cheio de cerveja, se masturbar em frente a um padre era demais até para uma puta como ela. Ela não se lembrava muito bem de nada, era como se estivesse sido drogada. Se lembrou dos homens nus cantando na cripta onde foi salva por Jorge. Um comportamento que não se encaixava em nada com o dos indivíduos que ela vira de paletó e gravata no escritório no centro da cidade. “Influência do mal” o sentido do que o Padre disse devia ser literal, pelo jeito. Ela estava sob a influência da Entidade do trono de pedra. O Príncipe como ele havia se apresentado.
- Nos meus sonhos, Padre, o homem no trono se identificou como “Príncipe”.
- Azazel é um líder poderoso. Um demônio antigo. Foi um dos que caíram junto com Lúcifer no poço. Existe uma hierarquia no Abismo, Amanda, esse inclusive é um dos motivos dessa guerra deles.
- Mas o que nós temos a ver com isso? Não é uma treta entre eles?
- Esse conflito reflete aqui na Terra. É uma luta por poder. Almas humanas são um patrimônio para eles, como uma commoditie. A nossa função é detê-los, evitar que nosso mundo se torne um abatedouro, fazer com que seja perigoso para eles perambularem por aqui.
- E o bebê?
- Um dos filhos de Azazel. Para falar a verdade, ele ainda não tem um nome, apesar de ter nascido há uns 400 anos. Nessa fase larval eles são ávidos comedores de carne humana. Seus sonhos com Azazel nos diz que aquele que a tocou é um de seus filhos.
- Você tinha dito que havia dois grupos nessa guerra, e que Azazel liderava um deles. Quem lidera o outro?
- Ishtar.
- Quem é ele?
- Na verdade é ela.
- Padre, acho que vou indo. Tenho uns compromissos – disse Jorge, lá de fora.
- Vou com você. – Amanda levantou da cama.
- Obrigado pela ajuda com a garota, Diego.
As pernas dela ainda estavam bambas. Parecia que havia dormido uma eternidade, mas ainda eram cinco horas da tarde. Seguiu Jorge depois de dar um abraço em Diego, as palmas das mãos tocaram os músculos fortes das costas do homem, “talvez não seja a forma mais adequada de despedir de um padre” pensou ela. Quando sentou no banco do carona, o Chevrolet Opala já estava ligado.
Continua...
Teodoro Franco
Enviado por Teodoro Franco em 06/01/2025
Alterado em 18/02/2025